Em dezembro de 2015 a Big Finish deu um baita presente de Natal pros rubians: a primeira temporada de O Diário de River Song, trazendo o mulherão da poha predileto dos fãs em aventuras próprias.
Quem me segue nas redes sociais sabe que eu tenho um certo problema com a River na TV. Não bem com ela, mas com o modo como ela é escrita – extremamente sexualizada. E a River é muito, muito mais do que isso: ela é linda, inteligente, malandra, cheia de compaixão por quem faz o bem, indomável, sem medo e apaixonada. E os roteiros da Big Finish realçam todas essas qualidades dela.
Eu demorei muito pra ouvir a série dela e me arrependo de não ter ouvido antes.
Vamos então ao review primeiro dos (até agora) sete boxes das aventuras do Diário de River Song.
1.1. The Boundless Sea (Jenny T. Colgan)
“River Song teve a sua cota de aventuras no momento. Decidindo que o Universo – e seu marido – podem se virar sozinhos, ela se envolve com o mundo acadêmico da Terra do início do século XX, absorta em escrever teorias arqueológicas.
Mas quando uma misteriosa tumba é achada em uma terra seca e distante, a aventura vem em busca de River.
Pode a Professora Song impedir que mais membros da expedição morram? Quais segredos mortais estão enterrados na tumba? E o cônsul britânico Bertie Potts se mostrará uma ajuda ou um obstáculo?”
Esse primeiro box é um grande arco de 4 histórias interligadas, que têm como personagens principais River (Alex Kingston) e Bertie Potts (Alexander Vlahos).
The Boundless Sea começa no passado, com uma cerimônia fúnebre em que a mulher (viva) é enterrada junto com o marido – para evitar que ela se case de novo e “contamine” a linha real.
Séculos depois, uma expedição de arqueólogos no início do século XX descobre a tumba. Como a entrada da tumba é muito estreita, o chefe da expedição manda a jovem Daphne, a secretária, entrar pelo buraco. Lá dentro, ela é atacada por uma versão alienígena de vagalumes.
A expedição contacta, então, o Professor Straiton, que por sua vez despacha menina River, que vai a contragosto e pelos modos tradicionais. Ao chegar no Egito ela é recebida pelo cônsul britânico Bertie Potts, que faz de tudo para acompanhá-la até o destino final.
Aí começa uma aventura meio Indiana Jones. River descobre que os vagalumes são atraídos por umidade, por isso atacam os humanos. Dentro da tumba ela conhece Prim, a mulher que foi enterrada junto com o marido e passou a eternidade muito, muito, muito possessa por conta disso – uma coisa é você amar o seu marido e dar a vida por ele, a outra é te obrigarem a dar a vida por ele.
Eu vi algumas reviews falando (reclamando) que é uma história muito “feminista”. Claro que sim! River é uma mulher de mais de 40 anos numa Universidade inglesa no começo do século XX, um dos ambientes mais machistas da história da humanidade. Daphne, a secretária, visivelmente quer ter uma parte muito maior na expedição e se põe em risco pra provar que é capaz. Prim foi tratada como propriedade do marido e morreu por conta disso. Os diálogos de River com elas – e especialmente com Prim – são o auge da sororidade.
Escrito por Jenny T. Colgan, uma das minhas autoras prediletas ultimamente (ela é a única autora – de todos – que tem uma coletânea de contos de Doctor Who editada, e escreve ótimos livros de romance contemporâneo), e mescla bem aventura, um pouco de romance (Daphne tem um pretendente na expedição) e drama.
Bertie serve de companion da River nessa aventura, acompanhando-a dentro da tumba. Porém um detalhe entrega que Bertie não é bem quem parece ser – e antes de morrer soterrado, o falso cônsul entrega um envelope a River, dando o pontapé pros próximos três áudios.
1.2. I Went To A Marvellous Party (Justin Richards)
“River Song sempre gostou de uma boa festa, mesmo que ela não tenha muita certeza de quando ou onde será a festa. Mas a festa em que ela foi parar não é bem – nem ninguém é – o que parece.
Sendo ela River, não demora muito para ela sair explorando, nem para entrar em confusão. O tipo de confusão que envolve manipular outras civilizações, exploração e, claro, assassinato.
River está confiante que ela pode achar o assassino. Mas ela pode identificá-lo antes que mais alguém – ou todo mundo – seja morto?”
O envelope que Bertie entregou antes de morrer na tumba era, na verdade, um convite para uma festa. River, então, coloca seu melhor vestido e vai até o ponto de encontro, onde ela vai pegar a carona até o local da festa, uma nave espacial.
Ao chegar na festa River é recepcionada por ninguém menos que o falecido Bertie Potts. Ela, então, é levada até seus aposentos por um dos robôs (na verdade uma mulher fantasiada de robô), que pede ajuda – a pessoa que a levou para a festa (um homem chamado Jenkins, cujo passatempo predileto é abduzir pessoas para usá-las como escravas) foi morta e ela quer provar que não foi a culpada, mesmo tendo todos os motivos para isso.
River descobre onde se meteu: Bertie faz parte de um grupo que se autoproclama The Rulers, ou Os Comandantes: pessoas ricas, famosas e poderosas que se arvoram em decidir o destino de populações em planetas que eles consideram inferiores. E eles têm planos para usar as habilidades da Professora Song a seu favor.
Já River têm os próprios planos: descobrir quem matou Jenkins, e parar os planos dos Comandantes.
É um áudio de detetive, com River tentando descobrir quem matou Jenkins, bem como mandar Spritz de volta para seu planeta e acabar com a farra dos Comandantes. Obviamente ela consegue – e ainda conta com o fato dos próprios Comandantes não confiarem uns nos outros.
Terminada a aventura, River volta à festa para discutir com Bertie os motivos dele tê-la convidado. Nessa hora Bertie avisa que um homem está de olho em River, mas ela fala que nunca o viu na vida. O homem então se aproxima, se apresenta como marido dela e a cumprimenta com “Hello Sweetie”.
É uma história que estabelece o senso moral da River: ela fica absolutamente p… da vida quando descobre que os Comandantes manipulam o universo a seu bel-prazer, e fica feliz com os momentos de schadenfreud. Ela também faz de tudo para ajudar Spritz, a escrava, a escapar e quando a garota se vê receosa em voltar para o seu planeta depois de tudo que viu na festa, River dá a ela o cartão do falecido Jenkins como uma reparação pelos danos causados e uma ajuda para que Spritz recomece a vida.
Já o marido… pela voz a gente sabe que não é nenhum Doutor. Seria ele mais um dos maridos de River Song?
1.3. Signs (James Goss)
“River Song está no encalço dos misteriosos assassinos de planetas conhecidos como SporeShips.
Ninguém sabe de onde eles vêm. Ninguém sabe porquê eles estão ali. Tudo que eles sabem é que onde os SporeShips aparecem, civilizações inteiras são reduzidas a adubo.
Mas River tem ajuda. Seu companheiro é um estranho e charmoso viajante do tempo, alguém com conhecimento especializado nas coisas estranhas e nos perigos que o universo oferece. Como o Mr Song está conectado ao futuro de River, ele nunca iria deixaria sua esposa passar por todos esses perigos sozinha…
River está à beira da morte. O Sr Song (Samuel West) está à sua cabeceira explicando como ela acabou naquela situação: ela absorveu toda a energia de uma bomba radioativa. Ela pergunta porquê não regenerou, depois se lembra que não deveria ter dado suas regenerações ao seu marido.
Ela passa parte do tempo sonhando – ou melhor, relembrando as aventuras que passou com seu marido: eles em busca dos SporeShips, seres do princípio dos tempos que viajavam pelo universo destruindo civilizações e trazendo outro tipo de vida.
Mas como eles viajavam? Não era na Tardis. Seu marido diz que a Tardis é assunto proibido, e nos últimos tempos eles viajavam em uma nave chamada Sarah Jane.
A cada vez que River apaga ela relembra uma parte da história. E a cada vez que ela acorda, seu marido diz que ela está mais perto da morte.
Até que as peças do quebra cabeça começam a se encaixar e ela percebe que aquele não é o seu marido – pelo menos não o marido que ela achava que era.
Desde o começo a gente sabe que aquele não é o Doutor. Primeiro, porque não é a voz de nenhum Doutor conhecido, e dificilmente a Big Finish colocaria um Doutor unbound pra ser marido dela. Segundo, ele é muito suspeito, especialmente porque ele está lendo o Diário – e a regra número um é a de que o Doutor não pode lê-lo. E o Doutor jamais estaria sem a Tardis.
Você até esquece que só tem dois atores no áudio. Os efeitos são maravilhosos, o roteiro é incrível e você passa os 50 minutos tentando descobrir quem cazzos é aquele homem se fazendo passar por marido da River?!?!
Temos também maiores explicações sobre quem são os SporeShips, que serão muito úteis no próximo áudio.
1.4. The Rulers Of The Universe (Matt Fitton)
“Enquanto segredos chocantes são expostos, e um grande plano para o universo é revelado, River decide que essa é a hora dela tomar as rédeas da situação.
No espaço, uma sociedade clandestina enfrenta uma força alienígena antiga e poderosa – mas para River há uma complicação adicional.
O Oitavo Doutor foi pego no meio, e ela precisa se assegurar que seu futuro marido chegue ao destino com as memórias – e suas vidas – intactas…
O áudio começa com o Doutor e a Tardis chegando na nave da festa eterna e sendo recebido por Bertie. Ele explica a Bertie que o universo está em guerra; Bertie diz que é por isso mesmo que ele foi chamado – os Comandantes querem tomar parte na guerra (e faturar com isso).
O Doutor é levado para a área VIP, onde é feito de refém e obrigado a descer até um determinado planeta. Em rota de colisão, uma nave SporeShip que foi hackeada pela River – aliás, como a River hackeia a nave e volta pra festa envolve muitas viagens com o manipulador de vórtex, muitas bombas e uma sede de vingança indescritível, potencializada por eles terem mexido com o Doutor.
Ou, nas palavras dela: Sabe qual o maior erro que o seu clubinho cometeu? Atormentar uma psicopata com o tempo em mãos. E o segundo maior erro? Envolver o meu marido.
A questão agora é resgatar o Doutor sem que ele a veja ou a reconheça. Ela deixa escapar um “sweetie”, que deixa ele de orelha em pé, mas o plot é basicamente esse.
E Alex Kingston e Paul McGann contracenando são uma coisa de doido. Eles simplesmente combinam. É sexy sem ser vulgar.
O cuidado que a River tem com o Oitavo é uma fofura – o mesmo acontece durante Doom Coalition e Ravenous, quando os caminhos deles se cruzam. Ela diz que ele ainda é muito jovem, ingênuo e idealista e que ele precisa passar pela Guerra pra se tornar o homem que ela ama.
Fora isso, a vingança da River é uma coisa de louco. Ela é movida pela força do ódio de três áudios sendo feita de besta por um grupo de ricos que se acham mais do que os outros. Ela só não vai aos extremos de crueldade porque no fundo do cérebro dela existe a voz do Doutor que a impede de ir até os extremos, dando oportunidade das pessoas na festa se salvarem.
É um fim que amarra perfeitamente um box coerente, que vem num crescendo de aventura, ação, sci-fi e drama. Alexander Vlahos faz um trabalho ótimo como o cínico Bertie – e se você gostou dele, saiba que o Vlahos faz muita, mas muita coisa pra Big Finish, incluindo Dorian Gray (sim, o do Retrato).
No volume 2 menina River encontra com dois Doutores de uma vez, Sexto e Sétimo. Mas isso é papo pra outro box.