Sexto Doutor e Peri voltam em grande estilo no novo box da Big Finish

A Big Finish lançou agora em agosto The Sixth Doctor And Peri, um novo set de aventuras com um dos times Doctor/companion mais famosos de Doctor Who.

Pra quem não está acostumado com a série clássica, Peri Brown (Nicola Bryant) é uma estudante americana de botânica que começa sua história na Tardis ainda com o 5th – com ele se sacrificando para salvá-la em Androzani. Ela continua viajando com o 6th (ainda que ele tenha tentado matá-la no surto pós regeneração) até os acontecimentos de Trial of a Time Lord, mais especificamente no arco Mindwarp, quando o Valleyard leva o Doutor a crer que Peri está morta – quando, na verdade, ela se casou com o rei Yrcanos, de Toro Alpha (e esse fato é muito importante aqui nesse box).

Vamos à review?

1.1. The Headless Ones (James Parsons & Andrew Stirling-Brown)

“Quando uma chamada de socorro de uma fonte desconhecida ameaça arrancar a Tardis do vórtex, o Doutor e Peri aterrissam na África do século XIX tentando descobrir o que causou o distúrbio. Ao invés disso, eles encontram uma expedição britânica procurando por uma tribo há muito perdida: os B’lemyae… mais conhecidos pelos habitantes locais como Os Sem-Cabeça.

Doctor Who tem uma longa lista de personagens arrombados, e esse áudio trouxe mais uma adição a essa lista: Lord Oliver Erpingham. Um nobre vitoriano na pior acepção do termo, Lord Oliver é um completo cretino até pros padrões da época. Machista, racista, sedento por poder e dinheiro, ele é o financiador da expedição à África de Amanda Latimer, uma antropóloga que está em busca dos Sem-Cabeça, uma tribo que seria um dos elos perdidos da evolução e que o pai de Amanda, que era um missionário, teria conhecido. Conhecidos como B’lemyae, os Sem-Cabeça seriam canibais, de baixa estatura e com o rosto no torso.

O Doutor e Peri recebem um chamado de socorro que praticamente os arranca do vórtex. Eles, então, pousam a Tardis no meio da expedição de Amanda e Lord Oliver. Eles logo descobrem que enquanto Amanda quer encontrar os B’lemaye, Oliver está atrás de “espécimes” para montar um show do estilo Buffalo Bill’s Wild West, que será apresentado no jubileu da Rainha Vitória.

Durante a exploração eles tropeçam na tribo da rainha Siyanda, que fala inglês por ter tido contato com o pai de Amanda durante a missão. Oliver dá mais um show de machismo na frente de todos, e quando Siyanda diz que só conversa com a nobreza, Peri faz valer seu título de rainha de Toros Alpha e ganha a confiança da outra líder, conseguindo mais informações sobre os Sem-Cabeça.

Quando eles finalmente encontram membros da tribo B’lemaye, eles contam uma lenda antiga de criação, que dá o sinal de alerta de que eles talvez sejam alienígenas que caíram na Terra há centenas de anos. Para corroborar, o Doutor e Amanda acham uma cápsula de fuga ainda ativa, feita de diamantes, enterrada – e que estava gerando o chamado de socorro.

Lord Oliver, então, arma uma emboscada para levar os B’lemaye para Londres, para o seu “show”, quando o Doutor descobre que o show, na verdade, é só uma fachada para (mais uma) tentativa de assassinato da Rainha Vitória – Oliver faz parte de um grupo de nobres e empresários que não aceitam ser comandados por uma mulher e que já haviam tentado assassiná-la antes (nota: a Rainha Vitória sofreu 8 tentativas de assassinato nos 63 anos de reinado). Digamos que Lord Oliver terminou o áudio sem levar seu plano adiante.

Eu vi alguns comentários no twitter falando muito bem desse box, e desse áudio em particular. E eles tinham razão. A ambientação é fantástica, os personagens são bem escritos (tanto que você quer quebrar Lord Oliver na pancada), e a química do Doutor e da Peri com os outros personagens é muito bom – e eu não vou nem falar do Doutor e da Peri, pq Colin Baker e Nicola Bryant são tipo BFFs.

2.2. Like (Jacqueline Rayner)

“Na colônia terráquea de Rusina a população luta para ser popular. Likes levam a promoções, dislikes levam a demissões – e mais recentemente, a coisas piores. Então, quando o Doutor investiga a verdade por trás dessa sociedade baseada em inscritos, ele se vê prestes a se tornar muito impopular.

As definições de crítica social foda foram atualizadas com sucesso com esse áudio.

O Doutor recebe um pedido de ajuda de uma nave de refugiados que não receberam autorização para aterrissar no planeta Rusina, uma colônia humana que é comandada pela governadora Cromptom. Em Rusina todos têm um chip implantado que transmite a sua vida para os seus subs 24/7. Quanto mais likes você têm, mais você consegue subir na hierarquia social, conseguir um emprego ou ter acesso a bens. E a cada dislike, a dor é física, podendo levar à morte.

Isso faz com que todos se tornem reféns da tecnologia – falar ou fazer aquilo que não é aceito por todos, que vá contra a moral institucionalizada, leva a uma tortura física.

Para ter acesso à governadora Crompton, por exemplo, é necessário ter 50 mil seguidores. Peri, então, vai trabalhar como modelo para uma rede de cosméticos e instantaneamente consegue esse número. Ela, então, consegue uma audiência com a governadora e que Cromptom ouça o Doutor, que faz um dos seus discursos em prol da tolerância e da união dos povos.

Mas a governadora está cagando pros refugiados. Ela edita o vídeo do Doutor como se ele estivesse falando mal de Rusina e na mesma hora uma saraivada de dislikes faz com que o Doutor quase regenere. Ele é resgatado pelo grupo de Hoffman, a cientista que criou a tecnologia e se arrepende dos rumos que foram dados – em dado momento ela confessa que sequer cogitou a possibilidade de ser usada para fins de manipulação das massas.

Eles conseguem reverter o ataque ao Doutor dando uma quantidade massiva de likes no perfil dele, e começam a armar um plano para fazer com que as pessoas se tornem aliadas à causa dos refugiados. Com a ajuda de Christie (dona da empresa de cosméticos que Peri fez a propaganda e uma das pessoas mais populares de Rusina), eles criam um sketch de humor com Peri e um dos refugiados (que é de uma raça de homens-lagartos) – lembra um pouco uma série dos anos 70 com o Robin Williams chamada Mindy e Mork, em que o Mork é um alien que chega na Terra e precisa aprender a lidar com os nossos hábitos. Claro que o programa se torna um sucesso, forçando a governadora Crompton a ajudar os refugiados.

É um áudio que fala sobre mídias sociais, fake news, sociedade de consumo (passam umas publicidades de Rusina no meio do áudio) e a questão dos refugiados, assuntos super atuais. É um áudio mais focado na Peri do que no Doutor (apesar do discurso fabuloso), que passa a maior parte do tempo reafirmando que ela consegue e que ela é capaz – e é ela quem salva tudo. E nós gostamos de companions salvando o dia.

1.3. The Vanity Trap (Stuart Manning)

“Myrna Kendall era uma estrela de Hollywood. Atualmente ela passa os dias lembrando a carreira em chat shows, mas há um filme inacabado que ela se recusa a comentar… até o dia em que a Tardis interrompe uma entrevista na TV e a aparição do Doutor e de Peri faz ressurgir memórias há muito esquecidas”

Mais um bom áudio nesse box que vai me surpreendendo cada vez mais. E sim, eu sei que a Big Finish tratou o Sexto muito, muito, mas muito melhor que a BBC, mas eu não esperava algo tão bom assim.

O Doutor e Peri estavam a caminho de Metabelis IV (sinceramente, eu não sei porque ele ainda frequenta qualquer Metabelis) quando a Tardis faz uma parada em um estúdio de TV onde Myrna Kendal, ex estrela de Hollywood, está dando uma entrevista sobre a sua biografia. Quando ela vê a dupla, ela fica toda feliz, mas o Doutor não a reconhece e Peri só a conhece dos filmes e das revistas.

Nosso team Tardis, então, volta a 1972, quando Myrna está filmando “The Beast”, seu filme que não foi terminado e sobre o qual ela se recusa a falar. Vários acidentes vêm acontecendo no set, atrasando as gravações e colocando a vida de Myrna em perigo.

Myrna é uma daquelas atrizes que quer se manter jovem a qualquer preço porque sabe que os papeis deixarão de existir assim que ela começar a mostrar os primeiros sinais da idade. Para isso ela se vale do Doutor Karp e sua máquina – e é essa máquina que causa distorções temporais que deixam o Sexto intrigado.

Enquanto isso, Peri faz amizade com Carolyn Sue, uma atriz iniciante que se sente intimidada por Myrna. Mas por que será que ninguém se lembra efetivamente de Carolyn Sue?

Eu gosto de episódios que tratam de distorções no tempo e paradoxos. E eu também gosto de episódios em que o Doutor fica morrendo de medo ter feito bobagem e estar correndo risco de perder a companion. Peri se sente deslegitimada pelas atitudes do Doutor mais pro fim da história e quando eles voltam pra Tardis o Sexto pede desculpas daquele jeitinho que só o Doutor é capaz (“eu entendo se você quiser me deixar, mas por favor não me deixe” – todos eles têm alguma fala do tipo).

É também um episódio que trata da vaidade humana, especialmente para mulheres que trabalham no show business e vão vendo os papeis minguando à medida que elas envelhecem – o mesmo não acontece com homens. Ou seja, mais uma crítica social foda.

1.4. Conflict Theory (Nev Fountain)

“Preocupada com o crescente excesso de proteção que o Doutor tem tido com ela, Peri dá um ultimato: ou eles procuram aconselhamento ou ela sai da Tardis pra sempre. Com medo de perder uma de suas amigas mais próximas, o Doutor procura um dos melhores analistas do universo: Dr Sigmund Freud.”

O Doutor e Peri vão parar no Freudian Institute, uma nave espacial em formato de charuto (apesar de que, segundo a Peri, o formato não é bem esse…) cheia de robôs de Sigmund Freud. Eles, então, são atendidos por dois robôs psicanalistas e colocados em salas diferentes para contar os motivos que os levaram até lá.

Eles começam a contar que estavam ajudando um rapaz chamado Dodo na defesa de um planeta biblioteca contra uma entidade chamada The Complex, formada por robôs que repetem a frase “a inferioridade deve ser removida”. Peri desconfia que eles sejam algum tipo de Cybermen, mas o Doutor diz que não. Um desses robôs mata Dodo. De volta à Tardis, o Doutor começa a tratar Peri de forma super protetora, o que irrita a moça.

O robô-analista, então, começa a explicar que essa é uma reação ao Doutor ter tido uma companion chamada Dodo, e que ele a deixou na Terra sem nem olhar pra trás. Fala também que o Doutor só dá valor e mantém ao seu lado os companions que ele levou junto consigo depois de uma batalha, porque sabe que eles são mais fortes, e o Doutor vai ficando cada vez mais “meu deus, eu faço isso mesmo”.

Já Peri é analisada como sendo alguém com baixa autoestima e é levada pelo robô-Freud a uma nave, onde estão os robôs que não gostam de complexo de inferioridade, que tem todo aquele papo motivacional de livro de autoajuda. E é aqui que o plot twist começa.

Enquanto o Doutor continua comentando do ataque à biblioteca, ele fala como Milo o ajudou. O robô-Freud diz que não tem nenhum Milo na história e o acusa de estar mentindo para o analista. Já Peri começa a provocar o robô que a está escoltando, fazendo-o precisar de terapia.

Descobrimos, então, que o Complex foi criado pelo Freudian Institute como um laboratório para a teoria do conflito realístico (que é um troço super complexo que perpassa psicologia, sociologia e direito) e, basicamente, eles estavam forjando um estudo científico.

Mas essa parte da história não é o importante. O que interessa aqui – e no box todo, na verdade – é mostrar o quanto a Peri é uma companion importante pro Doutor e finalmente dar a ela o valor que ela merece ter, já que ela também foi vítima do “boicote” da BBC a toda aquela era.

Uma grata surpresa esse box, cheio de histórias divertidas, todas no mesmo nível de qualidade. 9/10 e espero que eles já tenham gravado o volume 2 (esses áudios foram gravados entre outubro e novembro/2018).

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