Time Lord Victorious | Como Waters of Mars se encaixa na história

Não dá pra falar de Time Lord Victorious sem falar do episódio que deu origem a tudo isso: The Waters of Mars.

Segundo a edição 556 de Doctor Who, The Waters of Mars é a segunda parte desse quebra-cabeça de acordo com o ponto de vista do Décimo Doutor (a primeira é Defender of the Daleks), e os eventos dessa cena aí em cima estão diretamente ligados a Time Fracture, o teatro imersivo que estreia só em março de 2021.

Eu tive um bloqueio mental muito grande pra escrever essa resenha, confesso. Até pensei em não escrevê-la. Mas eu acabei de ler The Knigh, The Fool And The Dead, o primeiro dos dois livros de TLV, e como o livro é ligado diretamente aos eventos de TWOM, eu voltei aqui com o pensamento mais clareado.

Tecnicamente, TWOM é o que deu origem a tudo: o James Goss pegou uma cena de pouco mais de 4 minutos, com uma fala forte (“O vencedor, esse é quem eu sou. O Senhor do Tempo vitorioso”), mas que estava lá esquecido há 10 anos e criou todo um universo próprio, com três Doutores, uma companion, paradoxos e origens do Universo. Convenhamos, é um trabalho que poucos teriam.

Como eu acredito que você já assistiu TWOM uma ou mais vezes, eu não vou ficar falando do episódio em si, mas sim de algumas camadas pra baixo.

Vou ser sincera: eu odeio essa fase do Décimo fugindo da morte. É quase como se o Valleyard tivesse tomado conta do Doutor: ele é egoísta, descuidado, ligeiramente abusivo, insensato e muitas vezes violento sem necessidade. E o Doutor, em qualquer regeneração, até tem um ou outro ataque de egoísmo, mas nessa fase ele passa dos limites. Aliás, eu não me surpreenderia se no fim dessa história toda de TLV acontecesse um acidente sinistro qualquer e o Valleyard surgisse.

E eu até entendo – apesar de não concordar: do ponto de vista dele, a próxima regeneração é a última. E o Décimo sabe que o fim dele está próximo: o Ood Sigma tá ali atrás da Tardis para lembrá-lo de que a música está chegando ao fim.

Quando o Décimo chega na Bowie Base One nós percebemos que aquele ali é um ponto fixo no tempo – e a gente sabe que mexer com tais eventos pode gerar reações catastróficas, como no presente caso. Fato é: a gente sabe que ele vai interferir de algum modo, ou episódio teria acabado com vinte minutos. E o que me pega é o modo de interferência.

Porque você vê que a tripulação entende (e aceita) que vai morrer ali. Eles sabiam do riscos envolvidos ao embarcar em uma viagem a Marte – diferente da família do Caecilius em Fires of Pompeii, que não tinha nem noção do que estava acontecendo. Fora que a situação não é apenas sobre a vida deles: a destruição da Bowie Base One tem efeitos no futuro da humanidade e, até, do universo, na figura da Suzie, a neta da Adelaide Brooks.

E é aí que você vê as maquinações do cérebro do Doutor: no momento que eles aceitam o destino, você vê o Décimo mudando completamente de ideia e achando que pode brincar de Deus. Porque é isso que ele faz ali: ele se arvora em ser aquele que decide o destino daquelas pessoas; ele simplesmente soca as vontades dele (ou pra ser mais exata, a vontade de não morrer) goela abaixo da tripulação. E quanto mais ele interfere, mais rápido a água age e vai tomando um por um.

De volta ao planeta Terra, você vê ele ali satisfeito; e os três sobreviventes estão num estado entre muito putos e muito assustados – e eu não me surpreenderia se alguém ali descesse um tapa no Doutor (eu sei que eu viraria a mão nele). E eu fico pensando em como cazzos aquele povo explicou estar na Terra quando deveria estar sendo transformado em zumbi em Marte!

E aí, meus queridos, é que vem a lição do episódio: você precisa lidar com as consequências dos seus atos. Mesmo que você seja o Doutor – especialmente se você é o Doutor.

Uma coisa recorrente em Doctor Who é justamente o fato de o Doutor ir embora e deixar a bagunça para os outros limparem. E aqui – e quando eu digo aqui, eu já estou incluindo TLV – ele vai ser obrigado a limpar a bagunça que fez. A morte da Adelaide na Terra e não em Marte cria uma fenda no espaço-tempo que faz com que tudo e mais um pouco passe para a nossa realidade; se autodeclarar Time Lord Victorious e voltar no tempo para evitar a Morte (com letra maiúscula mesmo) deixa um rastro de merda que afeta suas outras regenerações. O universo vai cobrar, e o preço a se pagar talvez seja caro demais.

Quando eu fizer a resenha do livro eu vou, obrigatoriamente, voltar a TWOM. Então esperem mais um pouco que logo logo vocês vão entender a ligação entre os dois – é a próxima resenha, não vai demorar.

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