Em 15 de novembro de 2009 ia ao ar The Waters Of Mars, a primeira vez em que o termo Time Lord Victorious apareceu. Para comemorar a data – e o evento – a BBC e o (podemos chamar de) showrunner James Goss lançaram um conto que mostra a história do ponto de vista da personagem principal da série: a Tardis.
“Vworp
Eu passo pelo tempo; ou melhor, o tempo passa por mim.
Eu viajei com muitos Doutores, viajarei com muitos mais. Assim como eu, eles mudam de aparência para se misturar com o que está ao redor, e às vezes as janelas estão um pouco erradas, mas a mera visão delas sempre traz conforto e um sentimento de casa.
O Doutor. A Tardis. Nós aprendemos a viajar juntos.
Esse, o atual – o que é todo Allons-y e tristeza na chuva – ele acha que finalmente aprendeu a me pilotar. Ele acha que eu o levo para onde ele quer ir. Mas eu vou lhe contar um segredo, posso?
Eu o levo onde ele precisa estar. Que às vezes também é onde ele quer estar. Mas não sempre.
Londres 1965, por exemplo. Eu poderia ter chegado lá em um segundo. Se ele tivesse pedido com jeito. Se ele não estivesse se divertindo tanto. Se ele não estivesse aprendendo uma lição. Sobre quem ele precisava ser, não quem ele queria ser. Mas aqui estamos – o velhote fugiu do propósito de seu povo, de ser um andarilho e não interferir. Ao invés, aqueles dois professores o ensinaram mais sobre si mesmo do que ele haveria aprendido em mil anos vagando sozinho pela eternidade.
Cada Doutor gosta de pensar que eles se fizeram sozinhos, mas eu os ajudei a se moldarem com vários acidentes de percurso cuidadosamente planejados. Skaro ao invés de Shoreditch. Aberdeen ao invés de Gallifrey. E Heathrow. Heathrow pode sempre esperar, Tegan Jovanka.
E esse Doutor. Ele teme a Morte. Ele pode senti-la vindo e ele quer ensinar uma lição a ela. Eu posso sentir toda a eternidade em cada sopro, mas ele parece preso no momento. Ele resgatou Adelaide Brooke da morte certa. E assim que ela sai para a neve da Rua Davies um paradoxo surge. Ele diz que é o Senhor do Tempo Vitorioso, mas o universo não acha isso. Nem um pouco.
Aquele único passo de Adelaide cria um paradoxo, cada passo na neve alargando-o até a Fratura Temporal. E eu posso vê-la. Um plano se forma. Eu já sei onde vou levá-lo. O que eu vou fazer com essa Fratura Temporal.
Eu posso ver a Fratura se estendendo pelo tempo. Voltando alguns séculos, eu consigo ver uma raça alienígena abri-la com um disruptor temporal até que toda a existência colapse. Mas isso é lá. E aqui e agora eu posso usá-lo.
Então. Quando Adelaide morre, quando ele cambaleia de volta, abalado por seu futuro, eu o levarei para o seu passado. Ao passado de todo Senhor do Tempo.
Muitos anos atrás, ou agora mesmo, Rassilon declarou os Tempos Sombrios fora dos limites. Ele lacrou temporalmente o tempo antes dos Senhores do Tempo (porque Rassilon nunca cansava de usar ‘tempo’ nas frases). Muitos estragos seriam causados à história se alguém fosse lá. Mas os Tempos Sombrios são onde o Doutor precisa estar. Ele tem negócios inacabados lá que ele nem os começou ainda.
Ele precisa cometer um erro. Um erro terrível. Ele vai mudar o futuro e o Doutor precisa de alguém que diga que ele está errado.
Então, ele vai precisar que outros Doutores se juntem a ele. O que é fácil. Lembre-se – eu permaneço no mesmo lugar e eu movo o universo ao meu redor. O que vem antes dele – jaqueta de couro e sorriso cansado, ah como eu sinto falta dele – ele se sente derrotado por perder uma guerra contra a Morte. Talvez seja hora dele ganhar uma? Eu posso dar um jeito nisso. Já dei. Vou dar em um segundo.
E um pouco mais para trás – ah, aí está ele – o último dos Doutores despreocupados. O último que olha para seu passado sem medo. A sobrecasaca, o sorriso, sem ideia do que o espera virando a esquina. No momento ele está indo em direção a uma armadilha. Ele pode sentir o tempo mudando – mundos onde a história havia passado batida, cidades onde deveriam haver desertos, armas onde deveria haver paz. Ele irá fazer uma terrível aliança com os Daleks. Você não precisa ser eu para saber como isso vai terminar. Mas eles querem que ele os leve de volta aos Tempos Sombrios – e eu permitirei. Porque é lá que eles precisam estar.
(Espere um pouco – desculpa. Eu me distraí aqui – um Ood caindo pelo Vortex Temporal. Eu dei uma olhada nele e percebi que ele é útil, então eu lhe dei um empurrãozinho. Ele também é um especialista em morte, então pode ajudar pelo menos um dos Doutores nos Tempos Sombrios. Não, não diga isso. Tudo a seu tempo.)
Agora, se você olhar um pouco mais para trás, houve um Doutor que brincou de forma terrível com a eternidade e com coletes. Ele achou que era o único a fazer isso, correr de um lado a outro do tempo entre as jogadas. Se ele pudesse me ver agora (eu posso vê-lo. Sempre). Será que ele ficaria feliz com o que eu estou fazendo? Ficaria zangado? Ou diria que é tudo parte de um de seus planos? Bem a cara dele.
Bem, eu vou juntar três Doutores para aprender uns com os outros, empurrando-os pela Fratura Temporal até os Tempos Sombrios. Parece uma bagunça, né? Bem, nenhum deles vai embora até que esteja tudo arrumado.
Enquanto isso Adelaide Brooke ainda está andando pela neve, cada passo alargando a fratura no tempo. Ela para à porta, se vira e olha para o Doutor. E eu a vejo. Eu a vejo entrar em casa e na história. Ela sorri de forma triste enquanto anda. Eu conheço esse sorriso. Eu o usei várias vezes enquanto deixava campos de batalha e terras arrasadas. Ela acha que vai dar o último passo sozinha, mas o tempo irá acompanhá-la.
Enquanto ela se vai eu consigo ver o que vou fazer a seguir. Onde eu preciso estar a seguir. Em alguns momentos o Doutor virá a mim, triste e bravo e assustado e ele vai entrar. Procurando conforto. Porque é isso que eu sempre dou a ele. Mas não dessa vez. Porque não é isso que ele precisa.
Ao invés…
Vworp!”
Aff que eu tô aqui emocionada. Eu sempre digo que a Tardis é a personagem principal, porque é o sensor de treta dela que leva o Doutor para as aventuras – e ela existe sem o Doutor, mas o Doutor não existe sem ela.
E tio James acertando mais uma.
Em breve eu volto com a review de The Enemy of my Enemy. Até lá!