Conto traduzido | Doctor Who e o Horror de Coal Hill (Parte Um)

Olá, senhoras, senhores e outros! Dezembro chegou e o Puxadinho está em clima natalino. Por isso, enquanto a Doutora não sai da cadeia, nós vamos trazer alguns mimos pra ajudar a passar o tempo (como se TLV não estivesse afogando todo mundo em conteúdo, né?).

Doctor Who e o Horror de Coal Hill é um conto virtual publicado gratuitamente em 2017 durante o Doctor Who Adventure Calendar. A história acompanha o Primeiro Doutor, pouco antes de sua primeira aventura televisionada, e… lobisomens espaciais. Sim, Horror de Coal Hill é aquela mistureba gigante que só funciona em Doctor Who. Tem monstro, tem momento fofo, momento engraçado e várias surpresas para os fãs da série clássica e nova.

Como a história é gratuita, decidimos traduzir e publicar aqui no Puxadinho para vocês. Quem quiser ler a versão original em inglês, é só clicar aqui.

O conto é dividido em três partes, e vamos postá-las separadamente no decorrer da semana. Portanto, sem mais delongas, aproveitem a parte um!


Doctor Who e o Horror de Coal Hill - Parte Um

               Enquanto caminhava pelas ruas enevoadas do leste de Londres, ele percebeu os passos que o seguiam e imediatamente se perguntou se eram eles. Começou a andar mais rápido. Os passos – um suave “pad pad pad pad” – permaneceram logo atrás. Agora, esforçando-se para ouvi-los, o velho percebeu algo mais. Um rosnado baixo e aveludado.
               Não eram eles, então. Mas quem?
               Ou o quê?
            Ao virar a esquina, viu por cima do ombro algo escuro correndo em sua direção com súbita velocidade…
               Ele se movia com rapidez, dando passos largos antes que –
          Saiu da névoa. Podia enxergar novamente. Não há mais passos ou rosnados. Apenas sua respiração irregular. Ele fez uma pausa. Espiou rua abaixo mas mal podia discernir as casas que a compunham, muito menos qualquer perseguidor. Ele estremeceu. Olhou para cima e notou a placa que dizia “Escola Coal Hill”. Ajeitou o cachecol e enquanto caminhava, por um breve instante, o velho pensou ter ouvido um uivo distante.


               Shivani Bajwa inspirou uma vez e levou a mão à boca. A sala de professores estava repleta de fumaça, e embora a Senhorita Wright normalmente reclamasse da sujeira do cachimbo do Professor Gibson, ela tinha saído mais cedo e o velho rapaz podia pitar a vontade. Shivani quase engasgou com o fedor de tabaco com sabor de rum e saiu para a recepção da escola. Se moveu tão depressa que esbarrou nas costas de um senhor usando uma capa preta e um chapéu Astracã.
          Ela se desculpou e o senhor se virou para encará-la. Algo sobre sua aparência a pegou desprevenida. Ele tinha longo cabelos brancos e havia uma intensidade surpreendente em seus olhos azuis-esverdeados. Ele parecia a estudar momentaneamente.
               – Posso ajudar? – Perguntou ela.
               – Estou procurando minha neta. Ela frequenta essa escola…
               – Qual o nome dela?
               – Susan.
               – Nós temos muitas Susans. Em que ano ela está?
          – 1963, madame. – O senhor inclinou a cabeça, como se tivesse percebido de repente que estava falando com alguém não muito inteligente. – O mesmo que você e eu e todas as—
               – Não – Interrompeu ela.  – Eu quis dizer… Qual a idade dela?
               – Ah. Ela tem 73 anos.
               – Você está… – Ela hesitou, pensando em como terminaria a frase.
               – Preocupado? – Ofereceu o velho. – É claro! Ela não deve tentar atravessar aquilo ao voltar para casa! – Ele gesticulava em direção às portas de vidro da recepção.
               Shivani espiou. Uma grossa neblina se formava nas ruas de Shoreditch. Parecia misteriosa e impenetrável mas, para qualquer um que aturou a poluição atmosférica da década anterior, não era nada mais que uma inconveniência.
               – É só névoa, Senhor…
              – E como névoa se forma? Hmm? – Respondia, com a cabeça balançando. – O que compõe a coisa?
            – Como eu disse aos meus alunos essa tarde, névoa é causada por pequenas partículas de água suspensas no ar. Mas eu não entendo–
               – Exatamente! O clima está seco há dias. Nenhuma gota de chuva! – Ele sorria. – Entende?
             – Eu pensei que todos já haviam ido embora, mas talvez sua neta esteja no pátio da escola, Senhor…?
               – O que quer que seja lá fora, não é névoa. – Ele encarou a professora novamente. – E não é “Senhor”. Céus, não. – Ele estendeu a mão. – Eu sou o Doutor.
               – Shivani Bajwa. E você é o avô de Susan Foreman!
               – O quê? Hmm? Sim, o próprio!
               – Ela saiu, Doutor. Eu a vi ir embora uns vinte minutos atrás.
            – É mesmo? Mas que criança! Eu avisei expressivamente para que ela me esperasse. Céus, céus, céus…
               – Se não é névoa, o que é?
               – Eu preciso ir!
               Ele começou a marchar em direção às portas.
               – Doutor! Eu tenho um carro! Está ficando tarde… Posso te dar uma carona?
               – Um automóvel?
               Ela sorriu.
               – Um Hillman Imp. Se quiser uma carona pela–
            – Vá para o seu carro, Senhorita Bajwa. Vá imediatamente. Me ouviu? E então se afaste da cidade. Não pare até–
               – Do que você está falando?
           – Algo está vindo. – Disse o Doutor, em tom grave. – Eu só tenho tempo de te oferecer um conselho.
               – Qual?
               – Corra!
               Ela o encarou. Talvez de nervosismo, começou a gargalhar.
               Blam!
        Logo acima do ombro do Doutor, um homem deu de cara com as portas. Suas feições manchadas de sangue estavam contorcidas por se pressionarem contra o vidro. Ele aparentava ter uns vinte e poucos anos. Alto, vestindo um uniforme do exército. Seu rosto estava destorcido e ensanguentado, e ele esteve correndo rápido demais para perceber a entrada da escola e – PLAFT! – acabou batendo nela.
               Shivani gritou.
               – Quieta! – Explodiu o Doutor, dando um passo para trás.
               Mais pessoas saíram da névoa, encontrando as portas e tateando a procura das maçanetas.
               O Doutor deu mais um passo para trás. Dúzias de homens e mulheres emergiam. Gritavam, berravam e corriam em direção à Escola Coal Hill em busca de um santuário.
               Shivani viu o Doutor tirar algo de seu bolso. Um dispositivo cilíndrico, pequeno e esguio que se parecia com uma pequena lanterna.
           A professora ouviu uma sucessão de cliques enquanto o Doutor agitava o dispositivo na direção das portas e, embora fosse inacreditável, as trancava.
               As pessoas aterrorizadas golpeavam a porta. Shivani agarrou o ombro do Doutor.
               – O que está fazendo? Por que está impedindo-os de entrar?
            – Me solte, madame! – Disse ele com seriedade ao acenar para as portas. – Veja! – Shivani seguiu seu olhar. – Não são eles que estou impedindo…
               A multidão se desfez depressa. Perceberam que a escola estava trancada e, aterrorizados de o que quer que estivesse à espreita na névoa, abandonaram rapidamente o local. Uma mulher, um pouco mais velha que o resto, parou antes de fugir. Ela olhava para a recepção enquanto apontava para trás.
               Shivani correu até as portas, mas as trancas seguraram firme. Ela gritou para a mulher:
               – O que é?
               – Eles estão vindo!
               – Doutor! Abra as portas! Que direito você tem de–
               – Eu tenho todo o direito!
               – Bem, eles se foram agora. Não há mais nada lá fora… – O silêncio era perturbador. Shivani olhou para a névoa. – Não é?
               O sorriso do Doutor parecia sinistro.
               – A noite nunca está vazia, minha querida. Não completamente.
               – Talvez não. Mas nós devíamos telefonar para pedir ajuda.
              – Imagino que eles sejam capazes de fazer isso. Com certeza deve ter uma cabine de polícia lá fora em algum lugar. Nós devemos nos proteger enquanto… – Ele perdeu a linha de raciocínio. – Quem é você, senhor?
               Shivani se virou e viu o Professor Gibson na porta da sala dos professores. Os pés travados, completamente boquiaberto, paralisado por algo que fez o sangue sumir de seu rosto. Sua boca se abriu e seu cachimbo caiu no chão.
               O Doutor e Shivani se viraram lentamente e olharam através das portas.
               A figura que emergia da névoa não era humana.
               Gibson conseguiu uma palavra. “O quê?”
            A criatura tinha olhos amarelos que pareciam queimar. Pelo cinza. Presas afiadas. Lembrava um lobo enorme e musculoso, e estava parado em frente às portas.
               Shivani ouviu o Doutor murmurando algo como “Notável… Quão notável.”
               Ela notou que a criatura os avaliava e se sentiu paralisada pelo medo.
               – O que… – Ela começou. – O que ele está esperando?
            – Hmm? Não é óbvio? – Por um momento, Shivani pensou que a névoa se movimentava. – Lobos caçam em alcateias.
             Para o horror do trio, dúzias de outros lobos emergiam da névoa. Rosnando, formavam uma longa linha em frente à Escola Coal Hill. E então…
               Então o ataque começou.


E então, o que acharam? Na parte dois teremos aparições surpresa e muita nostalgia. Portanto, siga nossas redes sociais e fique de olho!

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